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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Padre Cícero - O Padim do Povo

Padre Cícero - O Padim do Povo 

Olá!!!
Paz e Benção!!!
Chegando mais um filme pra curtirmos em família, hoje vamos conhecer um pouco de uma grande história de fé, vinda do interior do Nordeste do Brasil, a história de um grande sacerdote que amou e foi amado pelo seu povo, um dos fundadores da cidade de Juazeiro do Norte, o Padre Cícero, ou o Padim Ciço, como é carinhosamente chamado por aqui!

Cícero Romão Batista

Nascido no Crato, município do Cariri Cearense, no dia 24 de março de 1844. Nascido no seio de uma família de comerciantes, era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vivência Romana, mais conhecida como Dona Quinô. Aos 6 anos começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara. Aos 12 anos, inspirado pela leitura da vida de São Francisco de Sales, fez voto de castidade. Aos 16 anos foi estudar na cidade de Cajazeiras, no Estado da Paraíba, onde ficou por dois anos. Em 1862, então com 18 anos, Cícero teve de voltar para sua casa no Crato, pois o seu pai havia falecido, vítima da cólera, deixando a família em grandes dificuldades financeiras e Cícero teve que cuidar de sua mãe e suas duas irmãs solteiras.

Em 1865 Cícero Romão ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, feito que só conseguiu por conta da ajuda de seu padrinho de Crisma o Coronel Antônio Luis Alves Pequeno. Foi ordenado em 30 de novembro de 1870, aos 26 anos, logo após sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto aguardava o Bispo lhe dar uma paróquia para administrar, dava aulas de latim no Colégio Padre Ibiapina. 

O Pedido de Cristo

Em 1871 foi convidado pelo Professor Simeão Correia de Macedo para visitar o Povoado do Juazeiro, era a primeira vez que o Padre Cícero visitava o local, ali ele celebrou a tradicional Missa do Galo. O Padre Cícero ficou impressionado com o lugar, tanto que em abril de 1872 voltou à Juazeiro, mas dessa vez para ficar. Alguns historiadores relatam que o Padre Cícero teve uma visão (ou sonho) que mudaria sua vida, segundo relatos do padre a alguns amigos, ele viu Jesus Cristo e os doze apóstolos, sentados à mesa, como que no famoso quadro de Leonardo Da Vinci, quando de repente, entra no local uma multidão de pessoas carregando seus poucos pertences em pequenas trouxas. Então Cristo virando-se para os famintos, falava da sua decepção com a humanidade, e dizia estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente para o padre e ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!

Nessa época o "povoado do Juazeiro" tinha somente umas poucas casas de taipa (construções feitas de barro e vara) e uma capelinha de Nossa Senhora das Dores, o Padre Cícero, então, reformou a capela e adquiriu algumas imagens com o dinheiro doado pelos fiéis, depois começou um incansável trabalho de pastoral através da pregação do Evangelho, aconselhamentos, visitas domiciliares e confissões. Logo ganhou a simpatia dos fiéis locais e passou a ser chamado de "Padim Ciço", sendo Padim uma forma carinhosa, um diminutivo de "Padrinho" e Ciço uma forma abreviada do nome Cícero.

Formou uma Irmandade Leiga de beatas que o ajudava nas suas funções pastorais, sob sua orientação e liderança, um trabalho como nunca se viu na região. De estilo conservador, o Padre Cícero moralizou os costumes do povo, acabando com a bebedeira em excesso e a prostituição e outros comportamentos "pecaminosos" da população da época, pregava em favor do casamento na igreja, da família e contra os amasiamentos. O povo foi "harmonizado" e pode experimentar, então, os primeiros passos do crescimento e passou a atrair gente dos povoados e cidades vizinhas, todos queriam conhecer aquele povoado "abençoado".



O Possível Milagre Eucarístico

Em 1 de março de 1889, durante a Santa Missa da primeira sexta-feira do mês, a hóstia consagrada ministrada pelo Padre Cícero se transformou em sangue na boca da religiosa Maria de Araújo. Rapidamente a notícia do possível milagre Eucarístico se espalhou, passando a atrair cada vez mais pessoas para o povoado. Esse fato se repetiu várias vezes durante mais de dois anos, e sempre que acontecia o Padre guardava os paninhos usados para limpar o sangue da boca da beata e guardar a hóstia consagrada que houvera se transformado em sangue.

A pedido do Padre Cícero a diocese criou uma comissão de padres e profissionais da saúde para investigar o possível milagre, faziam parte da comissão os renomados médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves, além dos Padres Clicério da Costa, como presidente da comissão e, Padre Francisco Ferreira Antero, como Secretário. No dia 13 de Outubro de 1891, após várias entrevistas e estudos, a comissão encerrou as pesquisas, chegando à conclusão que não havia explicação natural para os fatos ocorridos. Esse resultado divulgado pela comissão reforçou ainda mais a fé do povo no milagre eucarístico, aumentando cada vez mais as peregrinações ao Juazeiro, o povo queria ver a beata e venerar os panos manchados de sangue. 

A Perseguição ao Padre Cícero

Insatisfeito com o parecer da comissão e influenciado por outros clérigos que rejeitavam a ideia do milagre eucarístico, o Bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para investigar o fato. O Padre Alexandrino de Alencar presidiu essa nova comissão, seu secretário era o padre Manoel Cândido. Esta segunda comissão concluiu que não houve milagre, mas uma farsa. Essa conclusão agradou Dom Joaquim, que com base nela, em 1894 decidiu suspender Padre Cícero das ordens sacerdotais e ainda determinou que a beata Maria de Araújo fosse enclausurada. A beata Maria de Araújo faleceu em 1914.

Em 1898 o Padre Cícero foi à Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e membros da Congregação do Santo Ofício, ele conseguiu sua absolvição, mas continuava proibido de celebrar Missas. Pouco tempo depois, essa decisão foi revista e o Padre Cícero teria sido excomungado, porém essa excomunhão não teria sido aplicada pelo bispo. Nesse período a perseguição ao Padre Cícero era tamanha que chegava a ser negado o sacramento do batismo a crianças que os pais tivessem escolhido o nome Cícero, e outros sacramentos como a confissão, à pessoas que mencionassem acreditar no possível milagre eucarístico. 

O Padre Prefeito

Impedido de exercer suas funções sacerdotais, mas com um desejo gigantesco de ajudar aquele povo sofrido, o Padre Cícero passou a lutar pela emancipação política, da então Vila do Tabuleiro Grande, desvinculando-a da Cidade do Crato. Ele tinha o apoio de Floro Bartolomeu e do Padre Alencar Peixoto, além de outras personalidades da região. Em 22 de Julho de 1911 a emancipação política foi concedida através da lei nº 1.028, o novo município foi chamado de Joaseiro (em referência à arvore típica da região) e o Padre Cícero se tornou o seu primeiro prefeito. 

Durante sua gestão como prefeito o Padre Cícero realizou várias benfeitorias: Levou a Ordem Salesiana para cidade, doou o terreno para construção do aeroporto, construiu escolas, capelas, estimulou a agricultura e ajudou a população mais carente, ele dizia que em cada casa deveria ter uma capela e uma oficina, para que todos pudessem rezar e trabalhar sempre. Em 1912 foi deposto do cargo pelo governador eleito Marcos Franco Rabelo, mas voltou a frente da gestão municipal em 1914, ficando no cargo até 1927. O Padre Cícero foi um dos maiores benfeitores do município, muitos de seus feitos à frente da gestão municipal permanecem até os dias atuais.

Mesmo Ferido, Nunca Se Revoltou
Apesar de ter sido afastado de suas funções sacerdotais o Padre Cícero nunca deixou de usar sua batina, seu chapéu e seu cajado, nem mesmo enquanto exerceu a função de prefeito do Juazeiro. Tampouco se revoltou contra a Igreja, ao contrário, mesmo sofrendo sua punição, ele sempre aconselhava as pessoas a se manterem fiéis a Deus e a Santa Igreja. Muitos tentaram o relacionar com o comunismo e a Teologia da Libertação, mas o Padre Cícero era extremamente anti-comunista, em um entrevista concedida ao Jornal O Povo, em 1931, aos jornalistas Paulo Sarasate e Alpheu Aboim ele afirmou: "O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lúcifer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos."

Morte e Homenagens Póstumas

O Padre Cícero morreu, aos 90 anos, no início da manhã do dia 20 de Julho de 1934, em Juazeiro do Norte, terra pela qual ele se apaixonou, cidade que ele ajudou a criar, deixando órfão todo aquele povo sofrido. Seu sepultamento aconteceu no dia seguinte e foi acompanhado por milhares de pessoas. Seu corpo está sepultado aos pés do altar da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, lá mesmo em Juazeiro. Após a usa morte sua fama de milagres só fez aumentar, até hoje milhões de romeiros visitam todos os anos a cidade do Juazeiro.


Um estátua foi construída em 1969 em homenagem a Padre Cícero, a obra foi esculpida pelo artista nordestino Armando Lacerda, tem 27 metros de altura, foi construída na Colina do Horto, local onde o Padre costumava fazer seus retiros espirituais e recebe cerca de 2,5 milhões de romeiros todos os anos. A Estátua pode ser visitada todos os dias do ano, mas os principais dias de peregrinação são:

  • 24 de Março: Aniversário natalício do Padre;
  • 20 de Julho: Aniversário de morte do Padre;
  • 15 de Setembro: Festa de Nossa Senhora das Dores.
  • 1 de Novembro: Solenidade de Todos os Santos, véspera de Finados e inauguração da estátua;
Em 2001 o Padre Cícero foi eleito o Cearense do século 20, em eleição promovida pela TV Verdes Mares, afiliada da TV Globo no Ceará. Participaram dessa eleição cerca de 1,6 milhão de pessoas e o Padre Cícero recebeu quase 1 milhão de votos, cerca de 38% do total.

Reconciliação com a Igreja Católica

Em 2006 o Bispo da Diocese do Crato, Dom Fernando Panico, estimulado pelo Cardeal Josef Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, atual Papa Emérito Bento XVI , formou uma comissão e deu entrada na Congregação para a Doutrina da Fé, em um processo de reabilitação do Padre Cícero. Esse processo resultou em 2015 na reconciliação do Padre Cícero com a Santa Igreja, sendo a reconciliação um grau mais alto de perdão do que a reabilitação, pois enquanto a reabilitação é a recuperação de ordens que estavam suspensas, a reconciliação significa apagar qualquer oposição à ação do Padre Cícero. Com essa reconciliação não há mais impedimentos legais para o avanço do processo de beatificação do Padre Cícero.

Sobre o Filme

O filme que nós veremos hoje se chama "Padre Cícero: Os Milagres do Juazeiro", é uma produção brasileira de 1975, dirigido por Helder Martins de Moraes, no elenco temos o Grande e inesquecível Jofre Soares no papel de Padre Cícero, o filme está dividido em duas partes. Eu ainda vou disponibilizar duas catequeses do Padre Gabriel Vila Verde, da Arquidiocese de Salvador, Bahia. Ele está escrevendo um livro sobre a vida do Padre Cícero e fez essas duas catequeses sobre a vida e sobe os motivos que levaram o Padre Cícero a ingressar na política. 

Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

Filme "Padre Cícero: Os Milagres do Juazeiro" - Parte 1

Filme "Padre Cícero: Os Milagres do Juazeiro" - Parte 2

Padre Gabriel Vila Verde - A Verdade Sobre o Padre Cícero

Padre Gabriel Vila Verde - Por que o Padre Cícero se Tornou Político?


Fontes Pesquisadas:
Wikipedia Padre Cícero, acesso 08/08/2020
O Povo Online
E-Biografias
Cruz Terra Santa
Notícias Canção Nova
Fundação Joaquim Nabuco
Wikipedia Prefeitos do Juazeiro
Portal São Francisco
Pé Na Estrada
Agência Senado,
Globo.com