Uma das missões que foram confiadas a Dom expedito era resolver problemas relacionados a quatro padres locais que, segundo relatos, estariam envolvidos com política partidária e relacionamentos indevidos com mulheres. Seus escritos mostravam que ele batalhava pelo cumprimento desta missão, pondo em prática local o que tinha aprendido em Roma. E se surpreendia com a tolerância que existia com os desvios do clero. Foi no exercer desta missão que entrou em sua vida o Padre Hosana de Siqueira e Silva, pároco da cidade de Quipapá, subordinada a Diocese de Garanhuns.
Padre Hosana tinha fama de ter temperamento forte e andar armado, além disso, era acusado de cobrar altíssimas taxas para realização de sacramentos; Não cuidar devidamente de sua paróquia, chegando a, algumas vezes, deixar de rezar missa na matriz e nas capelas por estar ocupado cuidando de uma fazenda que mantinha em um município vizinho; Deixar de dar assistência às escolas, o que era costume na época e, o mais grave, ter um relacionamento amoroso com Maria José Martins, prima do Padre Hosana e funcionária doméstica na casa paroquial, que ele teria obrigado Maria José a abortar um filho dele e que ela estava novamente gestante do padre e que ele a proibia de se confessar com outros sacerdotes, ficando ele mesmo como confessor dela. Os outros três padres que eram acusados de conduta indevida ajustaram-se às orientações de Dom Expedito, Padre Hosana, porém, não admitia a culpa e dizia sempre que era vítima de perseguição e calúnias.
Segundo algumas fontes pesquisadas, quando Dom Expedito assumiu a diocese de Garanhuns o Padre Hosana já havia afastado Maria José da casa paroquial e a tinha enviado para outra cidade, porém havia contratado para doméstica uma garota conhecida por Quitéria Marques, ainda mais jovem e bonita que Maria José e que era, também, amante do sacerdote. Ao toma conhecimento da situação o Bispo Dom Expedito Lopes exigiu que o Padre Hosana demitisse Quitéria da casa paroquial e deu a ele um prazo para isso. Ao final do prazo o Padre não obedeceu o Bispo e continuou com Quitéria em sua casa.
O Martírio de Dom Expedito Lopes
Em virtude da desobediência do padre, Dom Expedito consultou a Santa Sé e pediu orientações sobre como agir, como resposta recebeu autorização para suspender o sacerdote. No dia 01 de Julho de 1957, Padre Hosana dirigiu-se à Rádio Difusora de Garanhuns na intenção de se defender publicamente das acusações, mas sua entrada na rádio não foi autorizada, então ele seguiu até o palácio episcopal armado com um revólver calibre 32. Quem abre a porta do palácio episcopal para o Padre Hosana é o próprio Dom Expedito, o Padre Hosana, então, dispara três tiros contra o Bispo, dois tiros acertam o peito e um acerta o braço do Bispo. Padre Hosana foge em seguida e esconde-se no Mosteiro de São Bento, lá mesmo em Garanhuns, onde confessa o crime.
Ferido Dom Expedito é socorrido pelos médicos da cidade, como não havia ambulâncias na cidade, ele é transferido em sua cama, que foi colocada sobre uma caminhonete e transferido para o hospital da cidade, mas não era possível fazer exames para localizar as balas, fazendo com que o Bispo sangrasse sem parar, ainda chegou a receber algumas transfusões de sangue. Dom Expedito sofreu por, aproximadamente, oito horas vindo a falecer na madrugada do dia seguinte, 02 de julho de 1957. Em seu leito de morte Dom Expedito perdoou o Padre que o matou, e pedia insistentemente para que todos perdoassem e rezassem pelo Padre Hosana.
Padre Hosana que, mais tarde, teria sua excomunhão confirmada pela Santa Sé, foi entregue pelo prior do mosteiro ao prefeito da cidade, este o entregou às autoridades policiais, que o transferiram para a Casa de Detenção do Recife, atual Casa da Cultura. Hosana foi condenado a 19 anos de cadeia em seu terceiro julgamento no ano de 1963. Cumpriu a pena em regime fechado até 1968, quando ganhou liberdade condicional, e foi viver em um sítio da família na cidade de Correntes. Porém no dia 07 de Novembro de 1997, aos 84 anos, Hosana foi encontrado morto, o mesmo havia sido morto a golpes de madeira na cabeça, ali mesmo no sítio, o crime nunca foi esclarecido, e acredita-se que teria sido motivado por disputa de terras.
O Processo de Canonização
Logo após a morte de Dom Expedito começaram a acontecer relatos de milagres acontecidos pela interseção do Bispo. Relatos como o de um dentista que ajudou a socorrer o bispo e teve suas calças molhadas com o sangue do bispo, tendo guardado suas vestes como relíquias, utilizou-as no parto de sua esposa que corria risco de morte e se salvou. um outro caso, ainda mais famoso, foi o de um menino alagoano que atribui a cura de uma deficiência no pé a interseção de Dom Expedito. Os constantes relatos de milagres fizeram com que o processo de canonização fosse aberto em favor de Dom Expedito, mas ele ficou parado durante anos, e foi reaberto em 2003, tendo como eixo principal a via do martírio, por morrer em defesa da fé católica. Desde 2006 o processo está nas mãos do Tribunal do Santo Ofício.
Veremos abaixo dois vídeos, o primeiro é de uma palestra do Padre Paulo Ricardo, na Canção Nova, onde o mesmo fala sobre o caso, e foi a primeira vez que ouvi falar de Dom Expedito. No Segundo vídeo temos o documentário Batinas Tintas de Sangue, produzido em 2005 pelos jornalistas: Ulisses Brandão, Kele Gualberto e Marcos Leandro, e que recebeu o Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo, naquele mesmo ano.
Muitas das fontes pesquisadas por mim usaram como referência um livro escrito sobre Dom Expedito, chamado: "VIDA DE DOM EXPEDITO LOPES - BISPO MÁRTIR DE GARANHUNS" e pode ser adquirido pelo site da
Editora Bagaço.
Vídeo 1: Trecho de uma palestra do Padre Paulo Ricardo, onde ele fala sobre Dom Expedito.